sábado, 21 de janeiro de 2017

Tunguska: o mistério foi finalmente resolvido? Um fragmento de cometa explodiu como uma bomba?

Tunguska: o mistério foi finalmente resolvido? Um fragmento de cometa explodiu como uma bomba?

Um evento altamente energético ocorreu em Tunguka, Sibéria, em 1908, mas o que causou isto? Crédito© Don Davis
Um evento altamente energético ocorreu em Tunguka, Sibéria, em 1908, mas o que causou isto? Crédito© Don Davis
Há mais de um século, em 30 de junho de 1908, uma explosão descomunal foi detonada sobre uma região despovoada da Rússia chamada Tunguska. Esse é provavelmente um dos mistérios mais duradouros que persiste sem solução no mundo. O que causou essa enorme explosão na atmosfera, com a energia equivalente a mais de 1.000 bombas atômicas (Japão – Hiroshima/Nagasaki, 2ª guerra mundial, 1945), que não deixou crateras? É notável a maneira que esse estranho evento tornou-se grande material fonte para escritores de ficção científica. Afinal, como poderia tamanha explosão que agitou o campo magnético terrestre e iluminou o hemisfério norte por 3 dias não ter deixado uma cratera sequer, mas aplainou de forma exótica uma grande área de 2.150 km² da floresta siberiana e deixou 200 km² de árvores queimadas?
As árvores perto do rio Podkamennaya Tunguska na Sibéria ainda apareciam devastadas duas décadas após a explosão de junho de 1908. Crédito: Smithsonian Institution
As árvores perto do rio Podkamennaya Tunguska na Sibéria ainda apareciam devastadas duas décadas após a explosão de junho de 1908. Crédito: Smithsonian Institution
Embora existam muitas teorias de como o evento Tunguska possivelmente tivesse ocorrido os cientistas ainda estão indecisos sobre qual o tipo de objeto teria atingido a Terra vindo do espaço. Agora um cientista russo julga ter descoberto a melhor resposta até agora já apresentada. Um cometa de grande porte teria passado de raspão sobre a atmosfera terrestre, arrancando a atmosfera superior e deixando cair um pedaço de seu material cometário em direção do solo. O pedaço de cometa aqueceu-se pelo atrito atmosfera e seu material, repleto de elementos químicos voláteis, explodiu de forma fenomenal tornando-se a maior explosão da maior bomba química já presenciada pela humanidade…
É importante lembrar que há 12.900 anos, uma chuva de fragmentos de cometa caiu sobre a América do Norte e possivelmente também em outros locais do Hemisfério Norte (leia em Novas evidências suportam a teoria de violentos impactos extraterrestres há 12.900 anos), causando extinção em massa e impacto global.  Poeira e cinzas foram espalhadas pela atmosfera terrestre, gerando esfriamento global e acredita-se que esse desastre foi a causa direta da formidável extinção de 35 espécies de animais de grande porte na América do Norte e do extermínio do amaldiçoado povo de Clóvis, habilidosos caçadores que habitavam a América na ocasião. O evento Tunguska teve similaridade com essa extinção norte-americana, mas teve bem menor porte, felizmente para nós, sem causar mortes e atingir áreas habitadas. A explosão Tunguska foi detonada na alta atmosfera, aplainou as árvores da floresta russa e vaporizou-se, tendo sido benigna para a Terra, pois não afetou o clima ou provocou impactos globais.
A energia explosiva de uma bomba química é significativamente menor que a energia cinética de um corpo“, destaca Edward Drobyshevski da Academia Russa de Ciências em St Petersburg, que foi o autor dessa nova pesquisa sobre as causas do evento Tunguska.
A chave da nova tese é o fato que uma explosão química tem potência energética inferior a de um impacto na Terra de um objeto massivo vindo do espaço. Assim, Drobyshevski estimou que a explosão deu-se de fato a partir de uma parte do cometa que explodiu na alta atmosfera, quando o grande cometa tangenciou a Terra raspando a atmosfera superior. Conclui-se então que o fragmento cometário que foi expelido entrou na atmosfera de forma quase tangencial, ou seja, o ângulo de quase 90º de sua trajetória em relação ao solo fez com que sua velocidade efetiva de queda fosse relativamente lenta em relação a sua longa trajetória em direção ao solo (que felizmente não atingiu, pois explodiu antes).
Mapa da Sibéria mostrando a região de Tunguska
Mapa da Sibéria mostrando a região de Tunguska
Até aqui a teoria parece bem razoável, mas como é que esse fragmento explodiu? Usando o conhecimento atualizado sobre a estrutura química dos cometas, Drobyshevski assumiu que o pedaço de cometa era rico em peróxido de hidrogênio. Ah, então foi assim que a mágica ocorreu! A explosão na atmosfera deu-se, não em função da energia cinética do objeto, mas sim pela explosão de uma gigantesca bomba de peróxido de hidrogênio. Com a queda lenta e tangencial do fragmento cometário, o tal objeto aqueceu-se gradualmente pelo atrito atmosférico e o calor provou a dissociação do peróxido de hidrogênio em oxigênio e água detonando e vaporizando o fragmento. E isso fecha a questão: uma bomba química atingiu Tunguska e sua onda de choque aplainou a floresta, sem deixar marcas sob a forma de crateras, uma vez que o impacto não foi causado por uma queda convencional de um cometa ou asteróide.
Na introdução (abstract) do seu trabalho publicado no ArXiv.org Edward M. Drobyshevski apresentou um resumo técnico dos mistérios que sua tese procurou solucionar:
O estudo tem como objetivo dar uma solução simples para os conhecidos problemas não resolvidos relacionados ao fenômeno Tunguka-1908, entre os quais se destacam:
  1. A rápida transferência da energia cinética do meteoróide estimada em 10 a 50 milhões de toneladas de TNT direto para a atmosfera;
  2. O seu aquecimento a temperatura T>10.000 K na altitude de 5 a 10 km;
  3. O desvio final de sua queda suave, 0º à 20º na direção do horizonte;
  4. A trajetória do objeto 10º para o Oeste;
  5. O padrão incomum da queda das árvores e a dimensão da área afetada (2.150 km²);
  6. O que causou a queima das árvores (200 km²), através de radiação térmica.
  • A tese apresentada no estudo se encaixa dentro da hipótese da ‘nova cosmogonia explosiva’ (NEC – New Explosive Cosmogony) de corpos menores, que se opõe a outras soluções anteriores.
  • A hipótese NEC considera que o núcleo do cometa de período curto (SP – small period), ao qual o objeto do evento Tunguska pertencia, consistia de fragmentos produzidos nas explosões de capas de gelo de objetos da classe Ganimedes saturadas pela eletrólise dos gelos que formaram a solução de 2H²+O² (peróxido de Hidrogênio).
  • A entrada quase tangencial na atmosfera terrestres do núcleo cometário, com a velocidade estimada V≈20 km/s, com tamanho aproximado de ≈200 a 500 metros e massa de ≈5 a 50 x 10¹² gramas, também saturado pelo peróxido de Hidrogênio (2H²+O²), iniciou a detonação de uma parte com massa ≈10¹² gramas em uma altitude de 5 a 10 km. Essa explosão resultou na deflexão de sua trajetória em 5º a 10º, a rápida expansão (ondas de choque) com velocidade 2 km/s relativa aos produtos detonados, freado pelo atrito atmosférico atingiu uma temperatura T>10.000 K e deflagrou o fenômeno da explosão de alta-altitude.
  • A parte principal do núcleo cometário que não explodiu cruzou a atmosfera terrestre e escapou de volta ao espaço tornando-se um cometa de período curto (SP) que deverá ser oportunamente identificado em breve.
  • Se um pedaço de cometa desse porte caísse sobre a Terra, poderia ter produzido um impacto da ordem de W≈250-3.000 milhões de toneladas de TNT (tal poderia ter efetivamente ocorrido em 1908, mas a explosão na alta atmosfera evitou) e teria gerado uma cratera com dimensões de ≈3,5-8 km, com uma ejeção de material de poeira que poderia ter gerado uma catástrofe climática global. Os processos envolvidos no envento Tunguska têm similaridade com a queda do cometa Shoemaker-Levy 9 em Júpiter, acompanhada recentemente em 1994 e possivelmente com os impactos que causaram o esfriamento terrestre “Dryas Recente” há ≈12.900 anos e a extinção massiva na América do Norte.

Mais questões a resolver

Essa nova tese proposta trás imediatamente duas fortes implicações que ainda não haviam sido abordadas até agora, uma vez que as teorias antigas tratavam do problema Tunguska de forma diversa:
  1. Quando é que o cometa original (que voltou ao espaço) irá completar sua órbita e aproximar-se novamente da Terra?
  2. Existe algum objeto já catalogado (NEO) que efetivamente se aproximou da Terra em 30 de junho de 1908? Qual? Que trajetória ele tem traçado?

Conclusão?

Esse estudo é notoriamente interessante e inovador e responde as questões-chave sobre o cenário de Tunguska. Mas e agora? Não contente em atirar asteróides contra a Terra, o Universo nos manda também bombas de peróxido de hidrogênio para nos atingir! O que vamos descobrir a seguir?

Cientistas de Cornell apontam novas evidências

O assunto continuará a ser pesquisado, mas a teoria que o evento Tunguska foi causado por um cometa foi reforçada por nova tese dos cientistas da Universidade de Cornell explicadas aqui: Tunguska 1908: novas evidências apontam que o evento foi causado por um cometa?

Fontes e referências:

ArXiv.blog: Comet chemistry explains Tunguska event [ A better understanding of the chemistry of comets may finally explain the 1908 exposion over an isolated part of Russia ]
._._.
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