quinta-feira, 23 de junho de 2011

Venezuela:Qual será o tamanho do recuo?!

Moderação da revolução bolivariana?

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imagemCrédito: RNV

(Vladimir Acosta)
Depois de 10 anos, é tarde para que Chávez se converta em Lula.”
De volta ao seu habitual espaço de rádio, Vladimir Acosta, professor, historiador e referência inescusável na hora de tomar pulso no processo bolivariano, entrou sem rodeios a um tema tabu: A revolução bolivariana está moderando-se? Aqui, parte de suas reflexões no programa “Primeira Mão”, na Radio Nacional da Venezuela.
Escute o programa completo de Vladimir Acosta no RNV
“São muitas as coisas que tendem a mostrar que desde alguns meses para cá está produzindo-se uma sorte de reviravolta de uma esquerda que se qualifica a si mesma de radical em direção a uma que se desloca um pouco ao centro. Um tipo de centro-esquerda mais “politicamente correta”, menos conflituosa. Essa é a impressão que dá”, afirmou Acosta.
Antes, aclarou que se tratava de especulações, já que o debate sobre este ponto hoje não se registra. Especialmente no Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). “O partido não existe, não tem opinião política de nenhuma classe. Se limita a executar o que o presidente decidiu”, remarcou.
Na segunda metade de seu programa de uma hora, uma conferência magistral semanal que é seguida com atenção e repassada em seguida por milhares de homens e mulheres comprometidos com o processo bolivariano, Acosta argumentou que “há indicadores” dessa possível tendência em direção à centro-esquerda, e registrou o início desse giro depois das eleições parlamentares do ano passado: “ao princípio houve triunfalismo. Eu disse que essa vitória tinha um certo sabor de derrota”, recordou.
“Parecera que se entendeu que a coisa não era tão exitosa como parecia, e que havia uma sorte de ameaça sobre o futuro do projeto porque a polarização não havia funcionado como se esperava”, indicou Acosta.
“Não importa que a oposição seja um desastre. A oposição é um lixo e Chávez é um líder que fez milhares de coisas pelo povo. Um governo como este deveria ter 90 por cento de apoio por tudo o que fez para o povo venezuelano. Mas foi baixando e se mantém mais ou menos em um cinqüenta e cinqüenta. A situação é bastante equilibrada e isso é tremendamente preocupante”, prosseguiu o professor.
Acosta especulou que a partir dessa tendência de estancamento e até de diminuição do apoio ao processo bolivariano se explicaria que “se venha tentando uma política mais moderada que perseguiria tratar de recuperar a classe média e até ganhar-se setores da direita moderada. Uma moderação até na linguagem. Zero radicalismo e ruptura com as posições de esquerda que pareçam mais radicais”.
Nesta linha, Acosta localizou o “pacto com Colômbia”, em referência a nova relação com o governo de Juan Manuel Santos e a gestão comum para o regresso de Honduras, governada por Porfirio Lobo, à OEA, a troca do retorno do destituído Manuel Zelaya ao seu país.
“A relação com a Colômbia não pode ser emotiva, que passe de amores a ódios que no fundo foram muito favoráveis para a oligarquia colombiana”, advertiu Acosta.
O historiador alertou, além disso, sobre a possibilidade de que a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) resulte “radical demais”, o que a levaria a deixá-la de lado (sem abandoná-la por completo) para promover a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), um organismo em construção que considera “absolutamente extraordinário”.
Perguntas sem respostas
“Que havia detrás de tudo isso? Que pode haver aqui?” se perguntou Acosta ao fianl de seu espaço semanal e se arriscou: “Temor de uma agressão imperialista?”. “Temos o exemplo de Gaddafi. Fez todo tipo de concessões e ai está Líbia invadida e destroçada” alertou. “Aí está à agressão à PDVSA. Ai estão as ameaças denunciadas por Roy Chaderton de ingerência no próximo processo eleitoral para apoiar a oposição”, enumerou Acosta e em seguida alertou:”o panorama não muda, as concessões ao império são inúteis.”
No plano nacional, Acosta se perguntou se o eventual giro de posições de centro-esquerda buscaria “baixar a conflitividade para que se possam ganhar as eleições”. E se mostrou cético: “Depois de 10 anos é algo tarde para que Chávez se converta em Lula.”
“O inimigo imperial está atrás esperando sua oportunidade. O preço de uma política como essa pode ser muito alto”, remarcou Acosta, e precisou que a história indica que “as revoluções ou se aprofundizam ou se perdem. A direita e o império não perdoam”.
O caso Pérez Becerra e os meios do Estado
“Estas entregas de revolucionários são uma mancha feia que não significam o fim deste processo nem nada parecido”, indicou Acosta na primeira parte de seu espaço radial, mas indicou “o apoio a este processo não pode ser cego nem servil. Deve ser pensante. De um povo que aprendeu a pensar. Tem que ser crítico. Para apoiar e também para criticar com seriedade e com argumentos aquelas coisas que não vão nessa direção”. “Eu quisera que os revolucionários deste lado da trincheira pudéssemos discutir sem insultos e sem desqualificações”, indicou Acosta e considerou “ houve excessos como a queima de bonecos e termos exagerados e injustos contra o presidente Chávez” ainda que aclarou que é “ mais grave a arrogância do governo, sua surdez e a atitude de alguns revolucionários que não podem assumir a defesa da entrega de Pérez Becerra senão com insultos para aqueles que o criticaram”.
“Usam a mesma linguagem que a direita”, alertou. E criticou “ a atitude que se impôs a nossos meios de silenciar o que passava”. Nessa linha qualificou como injusta sob todos os aspectos a destituição de Cristina Gonzalez à frente da Rádio do Sul e a demissão posterior de parte da equipe de trabalho da emissora.
Fonte original deste documento é:
Radio Nacional de Venezuela em áudio completo: http://www.rnv.gov.ve

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